A ARTE DE ESCREVER É DIVINA

domingo, 27 de janeiro de 2008

BENEFICÊNCIA EXCLUSIVA.

É acertada a beneficência, quando praticada exclusivamente entre pessoas da
mesma opinião, da mesma crença, ou do mesmo partido?
Não, porquanto precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser abolido,
visto que são irmãos todos os homens. O verdadeiro cristão vê somente irmãos em seus
semelhantes e não procura saber, antes de socorrer o necessitado, qual a sua crença, ou a sua
opinião, seja sobre o que for. Obedeceria o cristão, porventura, ao preceito de Jesus-Cristo,
segundo o qual devemos amar os nossos inimigos, se repelisse o desgraçado, por professar
uma crença diferente da sua? Socorra-o, portanto, sem lhe pedir contas à consciência, pois, se
for um inimigo da religião, esse será o meio de conseguir que ele a ame; repelindo-o, faria
que a odiasse. - S. Luís. (Paris, l860.)

ESE, CAP: XIII, ITEM, 20.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O HOMEM DE BEM

O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade,
na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo
perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se
desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele;
enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que
sem a Sua permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.
Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas
ou expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem
esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e
sacrifica sempre seus interesses à justiça.
Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer
ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu
primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses
dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as
perdas decorrentes de toda ação generosa.
O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de
raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como
ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele
que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo
a suscetibilidade de alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma
contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não
merece a clemência do Senhor.
Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e
esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme
houver perdoado.
É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de
indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: "Atire-lhe a primeira pedra aquele que se
achar sem pecado."
Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a
isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.
Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos
os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor
do que na véspera.
Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem;
aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.
Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo
o que lhe foi dado pode ser-lhe tirado.
Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito
de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicálo
à satisfação de suas paixões.
Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e
benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o
moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais
penosa a posição subalterna em que se encontram.
O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se
empenha em cumpri-los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.)
Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão
as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.
Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem;
mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha
que a todas as demais conduz.